A catalogação é responsabilidade do artista (TEJO et al., 2018), mas é fácil observar a catalogação sendo vista como uma série de tarefas objetivas e individualizadas – considerada como uma atividade pontual e burocrática – que desviam o artista de sua subjetividade. Ele pode dividir a tarefa com um assistente, com uma galeria, mas ainda assim, é dele que partem as informações.
Meyer (2018) diz que a dobradiça passa a ser percebida no sistema de abrir e fechar uma porta, apenas quando denota um mal funcionamento. O mesmo se dá com o catálogo (o elenco estático do acervo, ou a planilha do catálogo) que se torna um entrave quando dificulta os processos e relacionamentos do artista em seu ethos. Ao discutir protótipos, Meyer (2018) sinaliza essa qualidade de fechamento (de estabilização ou pontualização) que um protótipo carrega. E essa também é a questão do catálogo: ele vem sendo considerado no Sistema da arte como o fim de um processo, pois na catalogação para a publicação do catálogo estático reside uma característica de fechamento, de conclusão.
Mas o catálogo não é, de fato, estático, a cada nova obra, a cada nova movimentação no acervo, nova publicação de críticos ou editoriais especializados, e postagens em mídias sociais ele é alterado, pois está inserido em um ecossistema, não em um sistema fechado. As notas no jornal sobre a publicação de um catálogo estático, em si, já modificam o catálogo de volta em uma recursividade distante da característica de finitude pretendida incialmente. É, portanto, o reflexo de um acervo que está vivo, um acervo vivo. Há uma recursividade evolucionária, uma movimentação (no tempo e no espaço) do acervo que o próprio substantivo comum – catálogo – nega. Assumimos a premissa de que ele se mostra vivo, contínuo e recursivo. Mesmo que o artista já tenha falecido, a obra segue a sua própria vida, ela tem uma materialidade que constrói sua própria imaterialidade.