Anelise Krüger

Anelise Krüger Guardião das passagens, 26,5 x 24cm, 2023 Cerâmica queimada em forno alternativo de queima a lenha na técnica Saggar
Anelise Krüger

Guardião das passagens, 2023
Cerâmica queimada em forno alternativo de queima a lenha na técnica Saggar
26,5 x 24cm

Anelise Krüger

sem título (políptico), 2023
Antotipia de açãfrão da terra, urucum, hibisco e spirulina com casca de jabuticaba
20 x 30 cm

No anseio de captar o universo etéreo que dialoga com os corpos, o próprio ato de respirar se tornou matéria de estudo. Um lembrete diário de clamores insistentes de uma necessária percepção de limites e diferentes estados. Como uma amalgama de emoções os nossos contornos se transformam e se apresentam em múltiplas formas e maneiras de ser. A casca do espírito como se fosse um barro de carne torna-se modelada a cada sopro de existência. O culpado desse encantado fenômeno invadiu meus sonhos e manifestou-se no desejo das minhas mãos. Nessa conversa sonhada com o guardião das passagens fui levada por uma vontade íntima de tirar do corpo da argila um pulmão. Esse ser pulsante que se faz um fio condutor do interno com o externo permitindo que o ar entre, animando e dissolvendo a presença, para então sair e entregar para fora as leves e pesadas sensações. Através dos seus contornos evoquei a inspiração profunda que reverbera nos tecidos em um fluxo sem fim de combustível para a vida. Tentando traduzir a força que percorre cada canto equalizando os movimentos, ritmando seus contatos em busca de purificação. A entidade que concede entrada ao mundo de fora em massas invisíveis e incessantes de ar, completando o corpo e se esvaindo, resultando em uma espécie de unicidade com o todo. Abrigado no peito ele abre suas entranhas para a passagem do ar se espalhar por seus caminhos secretos, alimentando assim o corpo célula por célula. Tentei alcançar no envolvimento com as matérias, o tempero das formas e as orações com o fogo os mistérios contidos em um sopro de ar.
Acompanhando o corpo marcado e sinalizado pelo fogo, as antotipias surgem como um registro de performance que carrega consigo a marca da transitoriedade. Em contraste com a permanência da cerâmica queimada, as imagens reveladas pelos raios solares prometem esvair-se com a passagem do tempo assim como dentro do peito acontece incessantemente com o ar.

Anelise Krüger

Anelise Krüger, 1988, Canoas, Brasil. Vive e trabalha em Canoas. Anelise Krüger trabalha com cerâmica, fotografia, performance, desenho e outras técnicas. Interessada no universo natural, nas constituições dos corpos, suas características materiais e fenomenológicas, seus encontros e relações com os territórios que abrigam vida, condicionam e transformam existências. Bacharelanda em Artes Visuais pela UFRGS (2023).

Instagram: anelisekrugerg