Bruna Salamin

Bruna Salamin

Encolher, 2023
Cerâmica
27 x 18 cm

A cama em escala reduzida é objeto da minha memória — a memória, essa coisa duvidosa, livre temporalidade e formas reais. Fui produzindo algumas perguntas à medida que modelava suas partes. Algumas tão óbvias me ocorreram somente agora, como essa sobre meu entusiasmo em sentir a anatomia de grandes objetos na palma da mão: o grande está contido no pequeno, disso já sabemos, mas porque me vale o pequeno? Verbalizar o que produzimos com as mãos é tarefa difícil. É preciso elasticidade do devaneio, ligeiro se perde o fio da meada se não mantermos a ponta dos dedos atentas, pois longas prosas despontam de gestos como este de amassar o barro, abrir placas e modelar objetos — ou ainda tecer, sovar um pão ou descascar uma laranja. No entanto, às vezes, toda essa prosa faz escapar o sentido temporal das coisas por aqui: ora os pés ficaram úmidos demais para suportar o peso da cabeceira, outras vezes secaram demais, inviabilizando a união de suas partes. Ainda estou tentando encontrar algum sentido para essa cama fragmentada que se apresentou.

Bruna Salamin

Bruna Salamin é bacharel em Artes Visuais pela UFRGS, pesquisa e produz gestos a partir da memória íntima de um cenário interiorano e doméstico: a casa da infância. Seu trabalho é silencioso e sutil, de cerâmica, fotografia, crochê e palavra, agigantado pela repetição de gestos do cotidiano encolhidos pelo mundo e pelo tempo.

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Instagram: brunasalamin