Carusto Camargo

Encantadoramente dóceis, 2022
Fotocerâmica e apropriação/ azulejos e arandelas da década de 70, bonecas de plástico, cabeças de porcelana, resina óptica e memória fotográfica
48 x 125 x 14cm

As fotocerâmicas reveladas a partir de fotografias de bebês, do início do século XX, espelham nossa apatia e espanto frente ao avanço da extrema direita e do fundamentalismo religioso e político no Brasil e no mundo. Nascido às vésperas do golpe militar de 64, tendo vivenciado o retorno da democracia e seu exercício pleno até o golpe de 2018, sinto-me subjugado e desnorteado. Os ideais de minha geração, como estas fotografias, adquiridas nas feiras de antiguidades, foram descartados e vendidos, independentemente das afetividades, sociabilidades e historicidades inerentes às suas existências. Bebês drogados com 10% de ópio por peso, encantadoramente dóceis, apáticos, amedrontados, totalmente estáticos frente ao elevado tempo de exposição dos primórdios da fotografia.

Carusto Camargo, Carlos Augusto Nunes Camargo, brasileiro, nascido em 1962, na cidade de São Paulo, reside em Porto Alegre. Artista Visual, Ceramista e Professor Associado do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, teve sua formação acadêmica na Universidade de Campinas – UNICAMP e na FBAUL – Faculdade de Bellas Artes da Universidade de Lisboa. A partir de 2015, desenvolve padronagens e painéis cerâmicos utilizando a fotocerâmica e as técnicas tradicionais da azulejaria portuguesa. Com o início da pandemia da COVID-19, reformula atuação e abrangência do NICA – Núcleo de Instauração da Cerâmica Artística www.ufrgs.br/nica, desenvolve práticas pedagógicas para o Ensino Remoto Emergencial, coordena convocatórias artísticas abertas e grupos colaborativos de construção de saberes cerâmicos e pesquisa queimas alternativas de baixo custo.