Adriana Daccache

Adriana Daccache

Doa-se amor e desejo, 2023
Cerâmica, madeira, metal, papel e ABS
16,5 x 16,5 cm

Adriana Daccache

Doa-se escuta e afeto, 2023
Cerâmica, madeira e papel
16,5 x 16,5 cm

Adriana Daccache

Doa-se coração inteiro, 2023
Cerâmica, madeira e papel
16,5 x 16,5 cm

Adriana Daccache

Doa-se empatia, 2023
Cerâmica, madeira e folhas desidratadas
16,5 x 16,5 cm

Adriana Daccache

Doa-se arte, 2023
Cerâmica, madeira, papel e colher
16,5 x 16,5 cm

Adriana Daccache

Lugares de memória, 2023
Azulejos de cerâmica
Dimensões variadas

Lugar de memória

“Minha mãe me deu um rio.
(…)Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate.
(…)
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens do meu rio
E de noite eles iriam dormir na árvore do meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore deu flores lindas em setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!”[1]

Ganhei do meu pai esse rio em forma de azulejo. Era mais que um objeto cerâmico: eram histórias de pessoas que criavam cada peça, enriquecidas com muitos detalhes como se ele realmente as conhecesse. Cresci amando os azulejos e as histórias que vinham com ele.
Anos depois descobri o poeta Manoel de Barros e suas palavras e daí para frente, nem o azulejo nem a palavra me largaram.
Meu trabalho com placas começou na faculdade com azulejos de alto relevo. Há alguns anos essa placa passou a ser um suporte para minhas ações artísticas. Acredito que a palavra possa construir uma rede poética e afetiva tão necessária em tempos de intolerância e desafetos.
Para esta exposição serão dois trabalhos em um só: na parede, um conjunto de 6 caixas em madeira ressaltando a peça de placa e suas somas num universo lúdico onde as histórias são lidas individual e lentamente; e uma ação que acontecerá somente na abertura da exposição, onde algumas pessoas receberão um pequeno azulejo com algum tipo de Doação impressa.
Essa ação artística tem intenção puramente afetiva, não se tratando apenas de uma pequena peça em cerâmica, mas sim das lembranças criadas, em conjunto e individualmente, a partir daquele momento.


[1] BARROS, Manoel. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008. p. 159

Adriana Daccache

É graduada em Artes Visuais pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e pós graduada em Pedagogia da Arte pela Faculdade de Educação da UFRGS. Foi professora no Instituto de Artes da UFRGS, coordenadora de equipe de mediação em várias edições da Ação Educativa da Bienal do Mercosul e coordenadora adjunta do Projeto de Extensão Objeto Identidade, da UFRGS. É uma das fundadoras do coletivo Bando de Barro onde fez inúmeras curadorias e atua como artista desde 1996, tendo exposições individuais e inúmeras coletivas entre Brasil e exterior. Apresenta obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC/RS) e acervos particulares.

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Instagram: adriana_daccache