Esther Jaeger

The bends I, 2023
cerâmica e esmalte
12,5 x 12,5 x 15,5 cm

The bends II, 2023
cerâmica e esmalte
8 x 8 x 14 cm

The bends III, 2023
cerâmica e esmalte
10 x 10,5 x 14,8 cm

Cíclico

Um bloco de barro. Parto daí. Aperto-o firmemente com as mãos. Entorto. Torço. Esmago. Crio vincos. Ondulações. Transfiro meu movimento à argila. Crio um organismo abstrato. É rápido, completamente instintivo e sem planejamento aparente. Digo sem planejamento aparente porque, ao terminar e me deparar com aquelas formas retorcidas, resgato inúmeras referências que estavam, até então, inconscientes: adormecidas nas palmas das minhas ansiosas mãos. O meu trabalho surge, justamente, da ansiedade por fazer. Da minha hiperatividade. Faço rápido. Faço logo. Quem me olhar produzir poderá até achar que faço sem cuidado, sem importância ou sem atenção. Muitos que olharem meu trabalho dirão que não sou refinada e conceitual o suficiente. Provavelmente, não sou. E eu adoro isso. Poderão e, com certeza, dirão “Isso até eu faço!”. Que bom. Nunca fui inalcançável. Sempre corri devagar.
É necessário retomar referências. Minha pele é referência. Meus órgãos são referências. Minhas mãos, dedos, unhas são todas referências. As abstrações do meu rosto são pura referência de ancestralidade acumulada. Eu sou inteiramente composta por referenciais. Tudo já foi feito antes. Tudo remete a outra coisa. Nada que eu fizer será inovador, o primeiro de todos. Isso que eu mais gosto ao observar meu processo e resultado: a possibilidade de enxergar outros artistas que me construíram, que foram, pode-se dizer, sem nem terem a mínima noção, artistas de mim. Do jeito que meus pais criaram meu corpo, outros artistas se encarregaram do resto. Criaram vincos. Torceram-me. Moldaram-me. Modelaram-me como um bloco de barro.
Um bloco de barro. Parto daí.

Esther Jaeger, 2002, Taquara, Brasil. Vive e trabalha em Porto Alegre, Brasil.
Esther Jaeger trabalha com cerâmica, desenho, gravura e pintura. Explora em seus trabalhos sobretudo figura humana, texturas, dobras, volumes e abstrações por meio de constante pesquisa referencial e prática e observação visual. É estudante do Bacharelado em Artes Visuais pela UFRGS.