Giullia Brahm

Giullia Brahm

Ancestral comum, 2023
Argila branca
Dimensões diversas

A música toca. Inesperadamente, me chamam para dançar. Do jeito que sou, recusei. Insegura, jamais me haviam convidado para tal ato. Já estou acostumada com minha própria companhia. Apesar de ter negado o convite, continuaram insistindo. Sem paciência, aceitei por uma vez de todas. Fiquei estressada. A ansiedade tomou conta de mim; sobretudo, o medo. Não sei dançar. E se eu errar os passos? Parecer esquisita? Sem ritmo? Que vergonha. Sequer conheço ela que me chamou, que péssima primeira impressão.
Apesar disso, pega minha mão e me conduz. Diz o que devo fazer. Me guia. Inicio sem jeito: fraquejo, confundo os movimentos. Desengonçada. Queria desistir logo. Não fui feita para isso. Mas ela não desiste de mim. Me incentiva a continuar.
Que saco! Só queria voltar ao meu lugar, contudo, por algum motivo que ainda não sei, não consegui dizer não. De certo modo, havia algo nela que me chamava para perto. Comecei a olhá-la admirada. Mesmo errando e estando constrangida, não soltou minha mão por um segundo sequer.
Quando me dei conta, estava fazendo tudo naturalmente. Não escutava mais a música nem as pessoas ao redor. Pareceu que nada mais importava. Tínhamos virado um só. Ela sou eu e eu sou ela. O singular mais plural que existe. A música termina. Contudo, o medo permanece. Assombrada por esta sensação que nunca havia experimentado antes. É isso que acontece quando a gente se permite ser?
Não sou mais a mesma. Aprendi a ser outra.
Senti que naquele momento lágrimas escorreram pelo meu rosto. Ah, a cerâmica me lembrou da pequenez de minha existência. Não passo de matéria orgânica.
Minha estadia é curta aqui com este corpo. Fui barro e voltarei a ser barro. Nasço, vivo e morro. Aceito minha condição de ser humano. Por uma necessidade, busco vivenciar essa dança sempre que posso. Não o faço porque quero. Faço porque preciso. Senão, o que fazer de mim?

Giullia Brahm

Giullia Brahm de Oliveira, 2002. Gravataí – Brasil.
Natural de Gravataí, Giullia é uma artista em formação. Graduanda do curso de bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DAV-UFRGS), demonstra interesse nas intersecções entre as diversas linguagens visuais e em seus respectivos processos. Seu trabalho transita principalmente pela cerâmica, gravura, fotografia e pintura.

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