Fotografia das obras

Um pouco do papel da fotografia das obras

As fotos das obras são uma metaobra. Elas têm o papel de representar o trabalho do artista. Não existe um parâmetro fixo nem regulamentado para o que se define como ‘alta qualidade’. Usualmente se trata de uma fotografia de 300dpi[1] com iluminação adequada para manter as cores fieis ao original. Este tipo de fotografia, com os originais em alta resolução, costuma ser realizada por profissionais.

Para portfólios há, basicamente, dois tipos de representações fotográficas

Registro – foto da obra, trabalho, contextualizado

Essa representação fotográfica busca contextualizar a obra dentro de um ambiente. Ela mostra a obra em seu contexto, o que pode incluir elementos como a obra em exposição, em uma galeria, em um espaço público ou em uma instalação específica. Essas fotos ajudam a transmitir a escala, o impacto visual e a interação da obra com o ambiente ao redor, oferecendo uma perspectiva mais completa para quem visualiza o portfólio.

Reprodução – foto da obra limpa de qualquer interferência

Essa representação fotográfica visa mostrar a obra em si, sem qualquer interferência externa. Nesse caso, a fotografia é focada exclusivamente na obra, destacando sua qualidade estética, os detalhes da composição, textura, cores, linhas e formas. Em um quadro, por exemplo, a reprodução pode mostrar a obra sem a moldura, permitindo uma visualização mais direta da pintura em si.
No caso de um quadro seria sem a moldura, por exemplo.

Ambos os tipos de representações fotográficas têm sua importância e podem ser utilizados de maneira complementar em um portfólio. O registro fornece uma visão mais abrangente e contextualizada da obra, permitindo que o espectador tenha uma ideia de como a obra se encaixa em diferentes ambientes. Já a reprodução se concentra exclusivamente na obra em si, enfatizando sua qualidade e características visuais.

É importante considerar o propósito do portfólio e o público-alvo ao selecionar as representações fotográficas das obras. Você pode incluir ambos os tipos de imagens para fornecer uma visão mais completa e detalhada do seu trabalho artístico, garantindo que os espectadores possam apreciar tanto o impacto visual da obra quanto os detalhes intrínsecos a ela.

Quando o próprio artista faz as fotos (ou a galeria), é frequente o uso de câmeras dos aparelhos celulares. Embora estas sejam cada vez mais precisas,  é provável que se encontrem problemas com o enquadramento, a iluminação e, por conseguinte, a fidelidade das cores. Estas fotos feitas com o celular raramente serão aproveitadas para a impressão de um catálogo (para uma exposição, por exemplo) e, dependendo da forma como são enviadas (no corpo do e-mail ou por aplicativos de redes sociais), certamente terão a sua a resolução reduzida.

Embora as câmeras de smartphones tenham melhorado significativamente em qualidade nos últimos anos, é verdade que ainda podem haver desafios em relação ao enquadramento, iluminação e fidelidade das cores em comparação com câmeras profissionais.

No entanto, mesmo que as fotografias tiradas com o celular não sejam adequadas para impressão em alta qualidade, elas ainda desempenham um papel valioso na documentação e no registro das obras. Elas podem servir como um registro inicial, uma referência visual do trabalho realizado, e ajudar a preservar a memória da obra ao longo do tempo.

Além disso, mesmo que essas fotografias tenham uma resolução reduzida ao serem enviadas por e-mail ou através de aplicativos de redes sociais, elas ainda podem ser úteis para compartilhamento digital, visualização em telas de dispositivos eletrônicos e uso em plataformas online. Elas podem ser incluídas em seu Catálogo Vivo, compartilhadas em seu site ou redes sociais, permitindo que o público tenha uma ideia do seu trabalho, mesmo que não seja uma representação de alta qualidade.

É importante reconhecer que qualquer registro fotográfico, mesmo que feito com recursos limitados, é melhor do que não ter nenhum registro. Enquanto os artistas se esforçam para capturar suas obras da melhor maneira possível, com o tempo podem buscar aprimorar a qualidade das fotografias, seja através da colaboração com um fotógrafo profissional ou da aquisição de equipamentos adequados.

Esta distinção entre uma fotografia de alta ou baixa resolução, ou de alta ou baixa fidelidade não torna os esforços dos artistas em registrar seu próprio trabalhos uma ação vã ou até mesmo desaconselhada. Muito pelo contrário. Entendo que a falta de um registro é, sim, desaconselhada e danosa.

O mais importante é garantir que exista um registro visual das obras, mesmo que inicialmente seja com recursos limitados. Isso permite preservar a memória e o legado das criações artísticas, facilita a documentação e a catalogação, e possibilita a divulgação e o compartilhamento do trabalho com o público, seja em formato digital ou em outros meios adequados.

Se busca, em um portfólio, catálogo ou outros tipos de publicações artísticas, evidenciar a:

  • presença,
  • representação e
  • simulação técnica

A fotografia, mesmo que realizada com apuro técnico, é uma forma de tradução pelo simples fato de ser metaobra, de não nos proporcionar a mesma experiência de ver a obra ao vivo. Mas, aqui, se pressupõe que quem se depara com um catálogo de exposição, raisonné ou livro de artista, já tem a compreensão de que não estará diante das obras em si, mas sim sua representação impressa. São mídias diferentes com propósitos diferentes e qualquer virtualidade, seja ela digital ou analógica, dificilmente substituirá a contemplação de uma obra de arte. Mas não há, também, a necessidade de um virtuosismo exacerbado: a possibilidade de contemplar novos trabalhos no Instagram ou fazer uma visita virtual a um museu só tem a enriquecer o repertório cultural da sociedade. Desperta novos sentidos e não aplaca, para quem aprecia ou está aprendendo a apreciar, a necessidade de conhecer a obra pessoalmente. Algumas vezes não é mais possível ter contato com certas obras como no caso da Tempestade no Mar da Galileia de Rembrandt[2], mas podem ser estudadas e apreciadas graças ao registro fotográfico realizado.


[1] dpi é a medida de resolução de uma imagem digital (pontos por polegada).
[2] Pertencia ao acervo do Museu Isabella Stewart Gardner em Boston, mas foi roubada em 1990 junto com outras obras.

A Arte da Catalogação

No livro A Arte da Catalogação – Ferramentas e Estratégias para Artistas, você vai encontrar mais dicas sobre fotografia de acervo.