Guia Completo para Catalogar Gravuras e Edições Limitadas (Tiragens)

Domine a catalogação de gravuras. Entenda a diferença entre Tiragem Original e Reprodução, o significado de Provas Especiais (PA, BAT, HC) e o passo a passo para gerenciar edições limitadas no Acervo Vivo.

Se aplica a qual Solução:

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A gravura é uma forma de arte única, caracterizada por ser um Original Múltiplo. Para artistas e colecionadores, a documentação profissional dessas obras exige clareza conceitual e atenção às particularidades técnicas, como as dimensões da imagem e o controle de cada exemplar da edição.

Uma catalogação efetiva é um passo crucial para a preservação do acervo.

Este guia do nosso glossário tem como objetivo desmistificar esses conceitos para você.


Fundamentos: Obra Única, Tiragem e Reprodução

É fundamental distinguir entre os diferentes tipos de obras seriadas, que não são peças únicas como uma pintura a óleo.

Obras com Múltiplos Originais (Tiragem ou Edição)

Refere-se a um conjunto de obras de arte produzidas a partir da mesma matriz ou processo original, concebidas pelo artista para existirem como um grupo limitado de peças autênticas. Cada peça dentro dessa edição limitada é considerada um original múltiplo.

Exemplos comuns incluem gravuras (xilogravura, calcografia, litografia, serigrafia) e fotografias impressas a partir de um arquivo digital mestre.

A Diferença Crucial: Tiragem Original vs. Reprodução

ConceitoDefiniçãoStatus
Tiragem Original (Múltiplo Original)O exemplar é produzido diretamente da matriz original (placa de gravura, arquivo digital mestre, etc.). O artista supervisiona ou executa a produção. A edição é limitada, numerada e geralmente assinada.É considerada uma obra de arte original.
ReproduçãoÉ uma cópia de uma obra original (seja ela única ou um exemplar de tiragem). É produzida por meios fotomecânicos ou digitais em massa (ex: pôsteres, cartões postais).Seu valor é significativamente diferente; NÃO é um exemplar da tiragem original.

Numeração da Tiragem: Entendendo os Símbolos

Cada exemplar original dentro de uma edição limitada é tradicionalmente numerado e assinado pelo artista. A numeração geralmente aparece como uma fração:

  • Formato: Número do Exemplar (Múltiplo) / Número Total da Tiragem
  • Exemplo: 5/30 significa que este é o quinto exemplar de uma edição total de trinta.
  • Importância: A numeração ajuda a autenticar o exemplar, a controlar o tamanho da edição e a identificar a posição daquela peça dentro da tiragem (embora, na maioria das técnicas de gravura, por exemplo, a ordem de impressão não implique diferença de qualidade entre os primeiros e os últimos exemplares de uma boa edição).

Provas Especiais: Além da Edição Numerada

Além dos exemplares numerados que compõem a edição principal, é comum existirem algumas provas especiais, que também são consideradas originais e têm valor no mercado. As mais comuns são:

  • PA (Prova de Artista) ou EA (Épreuve d’Artiste – Francês) ou AP (Artist’s Proof – Inglês):
    • São exemplares impressos para o artista, fora da edição numerada principal. Tradicionalmente, eram uma forma de pagamento ou exemplares pessoais do artista.
    • A quantidade de PAs é geralmente uma pequena porcentagem da edição principal (ex: 10% da tiragem).
    • São numeradas com algarismos romanos ou arábicos (ex: P.A. I/V, A.P. 1/5).
  • PI (Prova de Impressor) ou BAT (Bon à Tirer – Francês, significa “Bom para Imprimir”):
    • BAT: É a primeira impressão perfeita aprovada pelo artista, que serve como padrão de qualidade para o restante da tiragem. Geralmente há apenas uma BAT por edição.
    • PI: Provas destinadas ao impressor que executou a tiragem, como forma de reconhecimento ou cortesia.
    • PC: Prova de Cor
  • HC (Hors Commerce – Francês, significa “Fora de Comércio”):
    • São exemplares não destinados à venda, geralmente usados para exposições, arquivos do artista, ou como presentes. Semelhantes às PAs em propósito, mas às vezes com uma distinção sutil dependendo da prática do artista ou do ateliê.
  • PE (Prova de Estado) ou EE (Épreuve d’État – Francês):
    • São provas tiradas durante o processo de criação da matriz, para que o artista possa verificar o desenvolvimento do trabalho e fazer ajustes. Elas mostram diferentes “estados” da imagem antes da versão final. São raras e podem ter grande valor documental.

Importante: Todas essas provas (PA, BAT, HC, PE, PC) devem ser registradas e controladas pelo artista da mesma forma que os exemplares da edição principal, pois fazem parte do conjunto total de originais daquela obra.


Tipos de Gravura e Classificação Técnica

A documentação deve ser clara quanto ao tipo de técnica. A categoria “Gravura” pode englobar subcategorias como Xilogravura, Litogravura e outras formas de impressão com prensa.

TécnicaMatriz ComumTipo de Processo
XilogravuraMadeiraRelevo (a tinta fica na parte não gravada)
CalcografiaChapa de metal (cobre, zinco)Encavo (sulcos gravados diretamente ou por corrosão química)
LitogravuraPedra calcária ou placa de metalPlanografia (baseado na repulsão química entre água e gordura)
SerigrafiaTela (seda ou outro material)Plana (tinta forçada através de tela com áreas bloqueadas)

Nota Avançada: A edição variada (ou múltiplos únicos), onde o artista aplica uma intervenção manual única em cada exemplar da tiragem, pode ser documentada na Plataforma do Acervo Vivo usando a Linguagem “Técnica Mista” e configurando a tiragem normalmente. ➡️ Veja como catalogar este tipo de trabalho em nosso guia: Dominando as Tiragens


Catalogando a Edição na Plataforma Acervo Vivo

O gerenciamento de tiragens (obras que possuem múltiplas cópias originais) é feito através da funcionalidade Tiragens.

Configuração da Obra “Mãe”

O processo começa na Ficha Detalhada do Trabalho (a edição como um todo), na Aba “Ficha Técnica”:

  • Linguagem: Certifique-se de que a obra esteja catalogada com uma Linguagem que permita reprodução, como “Gravura” ou “Impressão Fine Art (Giclée)”. Se for “Aquarela”, o campo de tiragem não aparecerá, a menos que você a catalogue como uma reprodução digital (Impressão Fine Art).
  • Número Máximo da Tiragem: Informe o número total de exemplares da edição principal (ex: 10, 50).
  • Descrição da Tiragem: Registre os detalhes, incluindo as provas (ex: Tiragem de 10 + 3PA). Esta descrição será acrescentada à Legenda do Trabalho.

Gestão de Exemplares Individuais (Múltiplos)

Após configurar a tiragem, a seção “Tiragens” aparece na Ficha Detalhada do Trabalho.

  • Controle Individualizado: Você pode gerenciar cada exemplar separadamente. Para cada Múltiplo (1/10, 2/10, P.A. 1/3), você deve atualizar sua Situação (e.x.: Vendido, Consignado, Disponível para impressão), sua Localização física e a Galeria associada (A Galeria é apenas para usuários do Acervo Vivo Studio, artistas).
  • Adicionando Provas: As Provas Especiais (PA, PI, HC) são adicionadas como novos Múltiplos na lista de Tiragens.
  • Imagens: A Imagem de Destaque que você define representa a tiragem como um todo. Não é necessário fazer o upload de uma Imagem de Destaque diferente para cada exemplar individual. Fotos de detalhes ou variações dos exemplares devem ser adicionadas na Aba “Documentos e Anexos” do Trabalho “mãe”.
  • Status Específico: Para obras seriadas que ainda não foram totalmente impressas, a Situação “Disponível para impressão” é usada para indicar que a edição está definida, mas há capacidade de produzir mais cópias dentro do limite da edição. Para obras que possuem exemplares impressos, a Situação é “Tiragens disponíveis”.

Dimensões e a Matriz

Distinção de Dimensões

Para gravuras e obras sobre papel, é crucial diferenciar entre as dimensões do papel e as da imagem impressa:

  • Mancha (Área Impressa): É a área retangular da impressão em si. Suas dimensões (altura x largura) são fixas e correspondem à imagem gravada.
  • Papel (Folha): A folha de papel pode ser maior que a mancha, pois frequentemente contém margens brancas ao redor da imagem.
  • Registro: Recomenda-se registrar as dimensões a Mancha (Área Impressa) nos campos principais da Ficha Técnica. A informação do Papel (Folha) pode ser detalhada no campo Dimensões do Suporte na Aba Conceito e Matéria, na seção Dimensões do Trabalho.

Catalogando a Matriz

A matriz (chapa de metal, bloco de madeira, etc.) é um objeto de valor processual e deve ter um registro distinto das impressões.

  • Linguagem: Não use “Gravura”. A matriz deve ser catalogada com a Linguagem “Objeto” ou “Placa Escultórica”.
  • Conexão: Utilize Palavras-Chave únicas (ex: ProjetoGravuraNoiteEstrelada) para associar o registro da matriz a todas as impressões resultantes e manter a ligação conceptual.

➡️ Veja como catalogar este tipo de trabalho em nosso guia: Como Catalogar a Matriz de uma Gravura

Cuidados de Conservação e Manuseio (Foco no Papel)

O papel é um suporte sensível aos agentes degradantes. A conservação exige práticas meticulosas.

Manuseio

  • Evitar Manuseio: A catalogação digital ajuda a evitar que o original precise ser manuseado.
  • Higienização: Antes de embalar individualmente, é sugerida a higienização das obras para remover partículas de poeira usando uma escova limpa e dedicada para este fim (GOMES, 2008).
  • Identificação: Recomenda-se a conferência e o registro de um número de tombo (código único), que deve ser numerado à lápis no verso (ou folha de guarda) da obra (GOMES, 2008).

Acondicionamento e Armazenagem

  • Embalagem Individual: É aconselhável envolver cada obra individualmente com o uso de papel de seda branco ou papel arroz para impedir o contato direto entre as gravuras (GOMES, 2008).
  • Materiais Corretos: Embalagens com papel alcalino (sem acidez) são uma alternativa correta para a armazenagem (GOMES, 2008).
  • Empilhamento: O empilhamento de obras nas gavetas ou mapotecas deve ser feito com moderação para evitar danos causados pela pressão do peso do papel (GOMES, 2008).

Conclusão
Dominar os conceitos de tiragem, edição, provas especiais e a diferença para reproduções te capacita como artista a gerenciar seu acervo com mais profissionalismo e a comunicar o valor do seu trabalho de forma precisa. O Acervo Vivo te oferece as ferramentas para registrar e controlar suas edições limitadas, e esta Central de Ajuda está aqui para te apoiar com o conhecimento necessário.


Referências

GOMES, Letícia Costa. Suporte ao Acervo dos Ateliês de Gravura do IAD/UFPel: Catalogação e Estudo de Conservação. Monografia de Especialização em Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2008.

Se quiser entender mais sobre outras siglas utilizadas no mercado para tiragens limitadas, confira estes artigos:

📌 Fonte: FinePhoto – Tiragem limitada para obras de arte

📌 https://www.cps.pt/pt/normas/ contribuição: Odette Boudet

📌 Gravuras: o que são, os tipos e exemplos

📌 https://www.youtube.com/watch?v=Z77PRRlgdh8 contribuição: Odette Boudet


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